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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Auto-medicação de formigas

Quando era pequeno, passava horas a observar as formigas na rua, nas suas atarefadas vidas e dava por mim a pensar que havia muito mais do que a simples procura de alimento. Talvez um sistema "militar", que seria a defesa da colónia, controlo e manutenção de stock, sistema "médico", no tratamento de formigas doentes ou incapacitadas. Bem o que é certo, é que eu não andava longe, como se sabe e eu também já falei no blog, existem espécies altamente adaptadas para o ataque e saquear outras espécies, outras que escravizam, controlam a humidade e produzem os seus alimentos, etc.
Hoje trago outra novidade, algo que já se pensava, mas foi comprovado através de experiências, foi o fato das formigas serem capazes de se auto-medicarem, através de substâncias tóxicas, quando expostas a fungos letais. E não! Elas não vão as farmácias comprar anti-fungicos nem paracetamol!

Formiga morta por fungos (credito da imagem:Nick Bos)
O comportamento em estudo, foi observado na espécie Formica fusca. Esta constrói as suas colónias na terra ou por baixo de troncos podres e pedras, é uma espécie que também se pode encontrar em Portugal.
Esta espécie, por vezes é alvo de contaminações por esporos letais provenientes da espécie de fungos, Beauveria bassiana, uma vez alojados no corpo das formigas começam a germinar. Estes esporos então libertam enzimas, que dissolvem a superfície exterior do corpo das formigas. O fungo começa a multiplicar-se e alimentar-se do interior destas levando-as à morte em 10 dias e tornando-as em pequenas bolas bolorentas, a espera de voltar a contaminar outro inseto. Contudo o facto de serem infetadas, não significa o fim. 

Experiências laboratoriais mostram que depois de serem expostas ao fungo, as formigas procuram alimentar-se de substâncias tóxicas, que ajudam a eliminar os esporos para que possam sobreviver, "sentindo-as"ou "cheirando-as" nos alimentos.

"Elas têm uma quantidade extraordinária de sensilla nas suas antenas, através das quais conseguem sentir quantidades incríveis de substâncias de diversos tipos, por isso, é muito provável que consigam sentir o remédio " afirma o autor

Este comportamento, a auto-medicação, tem sido observado noutras espécies, desde de pássaros, abelhas até aos lagartos. Os organismos podem responder às infeções, procurando e consumindo compostos potencialmente nocivos para combater os sintomas da doença.

Então o que é que as formigas fazem nestas circunstâncias !?

Formigas infetadas a alimentarem-se de mel com (H2O2)
(credito: Siiri Fuchs)
Usaram compostos reativos de oxigénio (ROS), como
peróxidos de hidrogénio. Estas moléculas contêm oxigénio capaz de suprimir a infeção, eliminando o agente patogénico. Existem espécies que produzem estes compostos, mas as formigas obtém-no a partir dos alimentos.
Para descobrir este comportamento, o autor juntamente com os investigadores, dividiram as formigas em grupos em que algumas foram expostas aos esporos. Umas foram alimentadas com alimentos à base de mel , enquanto outras foram alimentaram-se de mel suplementado com 4% de peróxido de hidrogénio (H2O2), mas existe uma desvantagem, os ROS são também prejudiciais, portanto, as formigas não infetadas, alimentadas com (H2O2), muito provavelmente acabariam por morrer. Esta resposta já era esperada, pois são compostos tóxicos, que podem ser letais. Contudo as formigas infetadas pelo esporos tiveram uma maior taxa de sobrevivência, quando se alimentaram com alimento rico em (H2O2). Outro dado interessante, é que as formigas infetadas, preferem o alimento com (H2O2), quando lhes dão a hipótese de escolher, o que revelou o fato de elas procurarem estes compostos para se auto-medicar.
Os investigadores descobriram que, as formigas conseguem prever uma infeção antes de serem expostas ao fungo, ou seja, elas já se medicavam para se protegerem. Ainda mais extraordinário, é o fato, de elas serem capazes de moderar a quantidade que ingerem de composto, quando lhes são dadas duas hipóteses, preferem o alimento com baixa dose de (H2O2), uma decisão inteligente quando se trata de compostos tóxicos.

Pronto fica aqui mais uma curiosidade!






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